domingo, 29 de novembro de 2009

A FORÇA DAS PALAVRAS


Palavras assustam mais do que fatos: às vezes é assim.
Descobri isso quando as pessoas discutiam e lançavam as palavras como dardos sobre a mesa de jantar. Nessa época, meus olhos mal alcançavam o tampo da mesa e o mundo dos adultos me parecia fascinante. O meu era demais limitado por horários que tinham de ser obedecidos (por que criança tinha de dormir tão cedo?), regras chatas (por que não correr descalça na chuva, por que não botar os pés em cima do sofá, por quê, por quê, por quê...?), e a escola era um fardo (seria tão mais divertido ficar lendo debaixo das árvores no jardim de casa...).
Mas, em compensação, na escola também se brincava com palavras: lá, como em casa, havia livros, e neles as palavras eram caramelos saborosos ou pedrinhas coloridas que a gente colecionava, olhava contra a luz, revirava no céu da boca... E às vezes cuspia na cara de alguém de propósito, para machucar.
Depois houve um tempo (hoje não mais?) em que palavras eram cortadas por reticências na tela do cinema, enquanto sobre elas se representavam cenas que, como se dizia no tempo dos pudores, fariam corar um frade de pedra.
Palavras ofendem mais do que a realidade - sempre achei isso muito divertido. Palavras servem para criar mal-entendidos que magoam durante anos:
- Você aquela vez disse que eu...
- De jeito nenhum, eu jamais imaginei, nem de longe, dizer uma coisa dessas...
- Mas você disse...
- Nunca! Tenho certeza absoluta!
Vivemos nesses enganos, nesses desencontros, nesse desperdício de felicidade e afeto. No sofrimento desnecessário, quando silenciamos em algum lugar de esclarecer. "Agora não quero falar nisso", dizemos. Mas a gente devia falar exatamente disso que nos assusta e nos afasta do outro. O silêncio, quando devíamos falar, ou a palavra errada, quando devíamos ter ficado quietos: instauram-se, assim, o drama da convivência e a dificuldade do amor.
Sou dos que optam pela palavra sempre que é possível. Mas, em geral é melhor do que o silêncio crispado e as palavras varridas para baixo do tapete.
Não falo do silêncio bom em que se compartilham ternura e entendimento. Falo do mal de um silêncio ressentido em que se acumulam incompreensão e amargura - o vazio cresce e a mágoa distancia na mesma sala, na mesma cama, na mesma vida. Em parte porque nada foi dito, quando tudo precisaria ser falado, talvez até para que a gente pudesse se afastar com amizade e respeito quando ainda era tempo.
Falar é também a essência da terapia: pronunciando o nome das coisas que nos feriram, ou das que nos assustam mais, de alguma forma adquirimos sobre elas um mínimo controle. O fantasma passa a ter nome e rosto, e começamos a lidar com ele. Há estudos interessantíssimos sobre os nomes atribuídos ao diabo, a enfermidades consideradas incuráveis ou altamente contagiosas: muitas vezes, em lugar das palavras exatas, usamos eufemismos para que o mal a que elas se referem não nos atinja. A palavra faz parte da nossa essência: com ela, nos acercamos do outro, nos entregamos ou nos negamos, apaziguamos, ferimos e matamos. Com a palavra, seduzimos num texto; com a palavra, liquidamos - negócios, amores. Uma palavra confere o nome ao filho que nasce e ao navio que transportará vidas ou armas.
"Vá", "Venha", "Fique", "Eu vou", "Eu não sei", "Eu quero, mas não posso", "Eu não sou capaz", "Sim, eu mereço" - dessa forma, marcamos as nossas escolhas, a derrota diante do nosso medo ou a vitória sobre o nosso susto. Viemos ao mundo para dar nomes às coisas: dessa forma nos tornamos senhores delas ou servos de quem as batizar antes de nós.
Texto da escritora Lya Luft, publicado na seção Ponto de Vista, em 14 de julho de 2004 na revista Veja.

Canção das mulheres


Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.
Lya Luft

hauahuah




sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Marketing e Design: Casamento pós-moderno

Vejo o design e o marketing como criaturas concebidas uma para a outra,almas complementares que nunca deveriam se separar. O marketing atrai, o design conquista. Casal pós-moderno, cada qual tem a sua vida para cuidar, disciplinas próprias, áreas de conhecimento específicas e até, talvez, casas separadas. E quando esses dois se juntam, resistir, quem há de? Eles podem tudo, e quando estão para o crime, são um perigo!

Vejamos: o marketing é a arte de seduzir para casar. Ele pesquisa o mercado, a concorrência, define o quanto está disposto a se empenhar (cronograma e orçamento), descobre as preferências e sonhos do alvo em questão, capta as necessidades e insatisfações da alma que pretende aliciar, estuda o ambiente, as tendências, os riscos envolvidos. Junta tudo isso e bola estratégias matadoras das quais não se pode escapar. E, claro, se preocupa em continuar encantando para manter a fidelidade da vítima (por isso é que o marketing é para casar; propaganda pura é apenas galinhagem).

Já o design é a materialização de soluções em escala. É que o método projetual do design considera a ergonomia, a teoria das cores, a semiótica, as percepções, enfim, usa tudo o que estiver disponível para encontrar o melhor jeito de fazer o usuário feliz, seja um website, um
objeto, um ambiente ou um impresso. Como fruto da revolução industrial, o design se sustenta sobre um tripé: um bom projeto, que possibilite a produção em escala; um conceito que explique porque o objeto é feito dessa maneira e não de infinitas outras possíveis, com suas funções e porquês; e a preocupação estética (senão não vende).

O design ajuda a seduzir e a manter, pois é ele quem vai conceber coisas fáceis de usar e de entender, pensar em embalagens atraentes, projetar formas eficientes de transportar e distribuir, preocupar-se em como será o descarte na natureza, colocar em prática as intenções e estratégias que o marketing definiu. Enfim, é o design quem vai interagir com o cliente,
pele a pele, na maior intimidade.

O marketing define as sensações que quer provocar, as relações que quer manter, os sentimentos que quer despertar. Mas quem vai materializar tudo isso é o design.

Assim, não me conformo com o fato dos cursos de marketing não falarem nada sobre a gestão do design como estratégia, não apresentarem nem mesmo os conceitos fundamentais mais básicos. Onde esse povo vai trabalhar? Na Lua?

E também não tem explicação o fato de que boa parte das escolas de design não oferecerem disciplinas próprias do marketing. O que acontece é que o próprio designer mal sabe conquistar os seus clientes, mesmo tendo todas as armas.

É fácil saber quando os dois andam juntos: é quando os produtos e empresas são líderes de mercado, ícones, objetos de verdadeiros cultos.
Apple, Natura, 3M, Starbucks… ah, como o amor é lindo!

Artigo publicado na Newsletter MarketingProfs em 07/02/07

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Frases de Design

Bom design é bom negócio” Thomas Watson, Jr. Fundador da IBM

Designers comunicam apenas 3 coisas: mensagens sobre valor, mensagens de valor e mensagens sem valor” Rick Vialicenti

Bom design é uma forma de respeito – da parte de quem produz para a pessoa que irá eventualmente gastar seu suado dinheirinho no produto, usar o produto, possuir o produto” Davis Beown

Branding: persuadir os de fora a comprar e persuadir os de dentro a acreditar” Wally Olins

Design é desejo disfarçado de função” Terence Hiley, Curador do MoMA

Sim, como forma de determinar e influenciar ações de pessoas, fazer design é um ato político” Rudy Vanderlans

Toda noite eu rezo para que os clientes com bom gosto ganhem dinheiro e para os clientes que têm dinheiro ganhem bom gosto” Bill Gardner

Deus salve nossos arquivos!” Rastko Ciric

O orçamento determina o veículo da idéia, não o alcance da idéia propriamente dita” Thomas Vasquez

Qualidade, custo, turnover alto — escolha quaisquer dois” Rob Wallace

Ser um designer famoso é como ser um dentista famoso” Noreen Morioka

Quando estou trabalhando num problema, nunca penso em beleza. Eu penso somente em resolver o problema. Mas quando eu termino, se a solução não é linda, eu acho que está errada” Richard Buckminster Fuller

O bom não é uma categoria que me interesse” Rem Koolhaas

A evolução da forma começa com a percepção da falha” Henry Petrosk

Acidentes somente produzem as melhores soluções se você consegue reconhecer a diferença entre um acidente e uma intenção” Jennifer Morla

Fazer um bom design é fácil. Mas fazer um grande design requer um grande cliente” Michael Osborne.

Um observador inexperiente vê tudo numa figura. Mas um observador experiente, vê apenas as coisas que estão faltando” Rastko Ciric

Bom o suficiente é bom o suficiente se os seus padrões são altos o suficiente” Steve Frykholm

Não existem clientes ruins; apenas designers ruins” Bob Gill

Confusão e bagunça são falhas do design, não atributos da informação” Edward Tufte

Uma grande marca é criada por um designer, mas feita por uma corporação” Paul Rand

Eu digo para mim mesmo todos os dias: Deus mora nos detalhes” Matt Collins

O símbolo é a linguagem no nível molecular” Marty Neumeier

Uma pessoa criativa precisa ser uma sabe-tudo. Ela precisa aprender sobre todos os tipos de coisas: história antiga, matemática do século XIX, técnicas atuais de manufatura, arranjos florais e criação de porcos. Porque ela nunca sabe quando essas idéias podem vir juntas na forma de uma nova idéia. Isso pode acontecer seis minutos mais tarde, seis meses ou seis anos depois. Mas ela tem fé que isso irá acontecer” Carl Ally

Nós todos somos naturalmente curiosos aos oito anos de idade. Mas a maioria das pessoas, quando ficam mais velhas, ficam menos e menos curiosas, então, pedem a outras pessoas para serem curiosas no lugar delas. É disso que eu vivo” Ron Miriello

Menos é mais quando mais não é bom” Frank Lloyd Wright

Resolver o problema é mais importante que estar certo” Milton Glaser

Nós valorizamos o que nós entendemos” Kevin Walker

Frases do “401 design meditations”

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Um siri vai lhe trazer alegria


Sempre que o mundo desabava sobre minha cabeça, eu ia andar pela praia, próxima de onde morava.
Um dia encontrei uma bela garotinha de olhos tão azuis quanto o mar, construindo um castelo de areia ou algo parecido.
Oi, disse ela.
Eu respondi com um aceno de cabeça, não estava com humor para me aborrecer com uma criança.
Você quer me ajudar a construir meu castelo?
Hoje não. Falei pouco atencioso.
Eu gosto de sentir a areia em meus dedos do pé, ela falou sorridente.
Que boa idéia, pensei, e tirei meus sapatos. Um siri deslizou próximo.
Isto é um "alegria", falou a criança.
É um o quê?, perguntei.
Isto é um "alegria", livre pela praia.
Adeus "alegria", olá dor, murmurei comigo mesmo e continuei a caminhar.
Eu estava deprimido, mas a menina não desistia e perguntou: qual é o seu nome?
Eu sou Robert Peterson, respondi..
O meu é Wendy... Eu tenho seis anos.
Oi, Wendy.
Apesar de minha melancolia fui obrigado a rir e continuei caminhando.
Sua risadinha musical me seguiu.
Venha novamente, Sr. P., disse ela, animada.
Nós teremos outro dia feliz.
Meus dias foram atribulados e somente semanas depois é que voltei à praia.
A brisa era fria, mas eu andava a passos largos, tentando readquirir serenidade.
Tinha até me esquecido da criança, quando ela apareceu.

Oi, Sr. P., você quer brincar?
Não sei, que tal charadas? Perguntei sarcasticamente.
Eu não sei o que é isto, falou a menina.
Então me deixe continuar a caminhada.
Onde você mora? Perguntei-lhe.
Ali. Ela respondeu apontando na direção de uma fila de cabanas de verão.
Como você vai para a escola?
Eu não vou à escola. A mamãe disse que nós estamos de férias.
Ela tagarelou e quando eu ia voltar para casa, Wendy disse que tinha sido outro dia feliz. E havia sido mesmo.

Três semanas mais tarde, eu andava apressado pela praia, quase em pânico, quando a garota me alcançou.
Olhe, se você não se importa, hoje eu quero andar sozinho.
Ela me pareceu pálida e sem fôlego.
Por que?, ela perguntou.
Porque minha mãe morreu! Gritei.
Oh, então este é um dia ruim, falou a menina com ar de tristeza.
Sim, eu disse, e ontem e anteontem também. Vá embora!

Um mês depois disto, fui andar novamente na praia, mas ela não estava lá.
Sentindo-me culpado e admitindo para mim mesmo que sentia falta dela, subi até à cabana, e bati na porta.
Uma mulher jovem atendeu.
Olá, eu sou Robert Peterson.
Senti a falta de sua pequena menina e gostaria de saber se ela está bem.
Oh, sim, Sr. Peterson, entre, por favor.
Wendy falou muito do Senhor.
Eu tinha receio que ela estivesse lhe aborrecendo.
Se ela foi um incômodo, por favor, aceite minhas desculpas.
Não, sua filha é uma criança muito amável. Onde está ela?
Wendy morreu na semana passada, Sr. Peterson. Ela tinha leucemia. Talvez não tenha lhe contado...

A notícia me deixou cego e mudo, por alguns instantes...
E a mãe continuou: ela adorava esta praia e parecia um tanto melhor aqui. Aqui teve muito do que ela chamava de "dias felizes".
Mas nos últimos dias, ela piorou rapidamente...
Minha filha deixou algo para o Senhor.
Entregou-me um envelope, com Sr. "P." escrito em grandes letras infantis.
Dentro havia um desenho uma praia amarela, um mar azul, e um siri marrom. Embaixo estava escrito: "Um siri vai lhe trazer alegria."
Lágrimas rolaram de meus olhos, e um coração que quase esqueceu de amar abriu-se largamente.
Tomei a mãe de Wendy em meus braços e murmurei repetidas vezes: eu sinto muito, sinto muito!
O pequeno e precioso desenho está agora emoldurado e pendurado em meu escritório.

Seis palavras uma para cada ano de sua vida me falam de harmonia, coragem, amor e desinteresse.

História traduzida por Sérgio Barros, de autoria ignorada

Rápida passagem


Conta-se que no século passado, um turista americano foi à cidade do Cairo, no Egito. Seu objetivo era visitar um famoso rabino. O turista ficou surpreso ao ver que o rabino morava num quarto simples, cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma mesa e um banco.
Onde estão os seus móveis? Perguntou o turista.
E o rabino, bem depressa, perguntou também:Onde estão os seus?
Os meus? Disse o turista. Mas eu estou aqui de passagem.
Eu também. Falou o rabino.
A vida na Terra é somente uma passagem. No entanto, vivemos como se fôssemos ficar aqui eternamente.
A grande preocupação é amontoar coisas. São casas na cidade, na praia, no campo, no exterior.
Vários carros de cores, marcas e potências diferentes, para ocasiões diversas. Inúmeras roupas, dezenas de calçados, prédios, terrenos, jóias. Quanto mais se possui, mais se deseja.
Justo que o homem anseie pela casa confortável, vestimenta adequada à estação, boa alimentação.
Tudo isto faz parte da vida material. São coisas necessárias para nos manter e podermos gozar de relativa segurança.
Entretanto, por que ajuntar tantas coisas, utilizando um tempo enorme em trabalho constante, sem nos preocuparmos com a vida do espírito?
De um modo geral, afirmamos que não temos tempo para orar, para ler e estudar a respeito do mundo espiritual, do porque nascemos e vivemos.
Nossa preocupação é exclusivamente no campo profissional, para ter sucesso, ganhar sempre mais.

Esta maneira de pensar é tão forte em nós que, ao auxiliarmos nossos filhos a se decidirem por esta ou aquela profissão, costumeiramente sugerimos que eles escolham a mais rendosa. Aquela profissão que, num tempo muito curto, trará excelente retorno.

Tudo muito correto! Mas, e quanto ao espírito? Quando teremos tempo para lhes falar de Deus, da alma, de Jesus, da lei de amor?


Vivamos bem mas, de forma sábia, também cultivemos as coisas do espírito, preparando a nossa vida para além da tumba.